Depois de 49 anos do golpe de 1964, influência ainda é sentida no esporte
RIO — Quase 50 anos após o golpe militar de 1964, a
lembrança do passado de repressão ainda se faz presente por toda a parte na
sociedade brasileira. Dizimadas por assassinatos, sequestros ou maculadas pela
violência da tortura, muitas famílias ainda convivem com um sofrimento que
renasce na repetição dos nomes de governantes coniventes ou omissos diante dessas
práticas, que violam a cidadania e os direitos humanos. Especialmente quando
seus nomes estão associados à explosão do esporte, batizando estádios, ginásios
e complexos poliesportivos em geral, com homenagens custeadas pelo dinheiro
público.
Médici (E) utilizou a seu favor a popularidade da seleção de 70 |
No estado de Sergipe, que não mantinha qualquer vínculo
especial com o ditador, está localizado o Estádio Estadual Presidente Emílio
Garrastazu Médici, situado em Itabaiana. Inaugurado em 1971, a arena só viu o
time da cidade ser campeão uma vez, 35 anos após a conclusão da obra, em 2006. Há
alguns anos um movimento no legislativo estadual tenta, sem sucesso, modificar
o nome da arena. Um movimento semelhante
obteve sucesso na região de Bragança Paulista. Localizado na pequena Atibaia, o
Estádio Salvador Russani já foi motivo de revolta para a Capital do Morango
quando se chamava João Batista Figueiredo.
No ABC Paulista, a prefeitura de São Bernardo do Campo
reverencia o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, nome do Estádio
Municipal, mais conhecido como Baetão, onde jogam Esporte Clube São Bernardo e Palestra. Mesmo com grama artificial, é
utilizado para a disputa de competições de outros esportes, como hóquei e
rugby, além de ser sede de um dos grupos da Copa São Paulo de Futebol Júnior,
que acontece em janeiro.
Governadores da Arena também são lembrados
Há situações em que o populismo e a demagogia disfarçam a
homenagem sem impedir que os reverenciados tirem proveito político da
circunstância. Construído no tempo em que Ernâni Sátyro que governava a Paraíba,
o estádio de Campina Grande ganhou o seu nome e ainda a alcunha de Amigão.
Palco dos jogos da Campinense, a obra foi entregue pela metade e jamais concluída.
O mesmo aconteceu no José Américo de Oliveira Filho, o Almeidão, erguido no
mesmo período em João Pessoa.
No entanto, um dos casos mais escandalosos está localizado
em Minas Gerais e receberá jogos importantes
Magalhães Pinto é o nome por trás Mineirão |
Outros exemplos pelo país mostram que os governantes de
todas as esferas têm o hábito de prestar homenagens a seus superiores em busca
de gratidão que, politicamente, significa a liberação de mais verbas. Mas,
passadas as necessidades do momento, é preciso respeitar o sofrimento das
vítimas de um passado do qual o Brasil não se orgulha e corrigir as distorções
produzidas.
A Copa do Mundo é uma oportunidade boa para acertar as
contas com a história. Afinal, se o país está mobilizado para superar um trauma
meramente esportivo, o de 1950, deveria ter mais atenção e sensibilidade para
cicatrizar as feridas profundas abertas 14 anos depois. Especialmente porque o
Mundial coincide com o cinquentenário da data.
1 comentários:
Excelente post Stefano. Oportuno e objetivo.
Abraço do Sul.
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